Ler História 43 / 2002
Dossier: TERRAS E HOMENS
Emília Salvado Borges
O Motim Popular de Beja em 1637
Jorge Fonseca
Senhores e Escravos no Alentejo
Margarida Durães
A Posse da Terra na Região Rural de Braga no Século XVIII
José Vicente Serrão
Os Nomes da Terra: padrão predial das terras de Lisboa no século XVIII
Stefano d’Atri
Olhares sobre a História Agrária em Itália
Estudos
Ana Maria Pina
O Pão e a Alma na Política Liberal
Magda Pinheiro
Transportes e Urbanização na Margem Sul do Estuário do Tejo
Teresa Rodrigues e Maria Luís Rocha Pinto
Migrações no Portugal do Século XX
Documentos em Estudo
Jorge Flores
Um projecto de recuperação dos interesses económicos portugueses no Bengala: a representação de George Gearmain a D. Maria I
Críticas e Debates
Xosé R. Veiga Alonso
La reciente historiografia política sobre el siglo XIX español: balance critico y bibliográfico
Resumos
Ler História 43 / 2002
Emília Salvado Borges
O motim popular de Beja em 1637
A temática relativa aos motins antifiscais em Portugal durante o período filipino tem sido objecto de vários estudos. Continuava, todavia, desconhecido o motim popular de Beja do ano de 1637, que agora apresentamos. O motim bejense foi um movimento essencialmente antitributário e urbano. Rebentou nos finais de Agosto de 1637, cerca de oito dias depois das alterações de Évora. A causa da revolta foi o aumento da já pesada carga tributária. Ao povo amotinado untaram-se elementos de outros grupos sociais que se associaram à revolta. Ao clero, à nobreza e aos mais influentes homens dos mesteres coube a tarefa de acalmar os revoltosos. Beja foi a última vila a submeter-se e a aceitar de novo os tributos contestados.
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Jorge Fonseca
Senhores e escravos no Alentejo (séculos XVI e XVII)
A população escrava aumentou notavelmente em Portugal com a expansão marítima, mas o seu peso demográfico variou ao longo do território. O Alentejo contou, ao longo da época moderna, com uma numerosa população cativa. É ela o objecto deste artigo que, incidindo nos séculos XVI e XVII, analisa as formas e grau de inserção dos escravos no conjunto da sociedade e as suas relações com os senhores, realçando aspectos como a violência, o convívio, o afecto e a sexualidade. A alforria surge como uma expressão privilegiada dessas relações e o momento decisivo para o seu conhecimento.
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Margarida Durães
A posse da terra na região rural de Braga no século XVIII
No século XVIII, na região de Braga, a maioria das propriedades agrícolas estava na posse de senhorios eclesiásticos e nobres sendo explorada por contratos que definiram uma organização social baseada nos princípios, valores e interesses dos grupos privilegiados.
Assim, a organização social resultava da estrutura fundiária e esta estava dependente do aforamento que se repercutia na pequenez da maioria das explorações assim como numa forte proporção de população totalmente desprovida de terra. Esta, porém, também vivia numa estreita dependência económica em relação aos grupos privilegiados e aos seus proventos desenvolvendo actividades que se destinavam a satisfazer as suas necessidades de consumo.
Fortemente hierarquizada, a sociedade bracarense teve de criar elos de ligação entre os que pagavam a renda e os que dela viviam, através de intermediários que deram origem a uma complexa rede social onde sobressaía o clientelismo.
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José Vicente Serrão
Os nomes da terra: sobre o padrão predial dos campos de Lisboa no século XVIII
Este é um artigo sobre a propriedade da terra na região de Lisboa, tomando como ângulo de abordagem privilegiado a sua expressão predial. Reportando-se aos finais do século XVIII, época em que as estruturas fundiárias do Antigo Regime tinham atingido a sua maturidade, começa por reconstituir a tipologia predial vigente, isto é, quais os tipos de prédios mais comuns, que nomes tinham e como é que se distinguiam. Depois, ver-se-á sucessivamente como é que se hierarquizavam no seu valor e conceito, como é que se relacionavam com a dimensão da propriedade, em que termos compartilhavam o espaço e em que regimes eram possuídos ou explorados.
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Stefano d’Atri
Olhares sobre a história agrária em Itália
De uma forma breve, o autor traça o percurso da historiografia italiana que nas últimas décadas se tem dedicado à história agrária. Orientando a sua narrativa de uma forma cronológica, o autor salienta aquilo que para si foram os principais temas de pesquisa, análise e debate e a evolução por estes registada, acompanhando a evolução da historiografia italiana e as principais preocupações que em cada um dos diferentes momentos se colocaram à sociedade italiana.
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Ana Maria Pina
O “pão” e a “alma” na política liberal
Nas últimas décadas de Oitocentos, impôs-se, nas classes cultivadas e na cultura política, a ideia de que a Regeneração se tinha limitado a realizar “melhoramentos materiais”, tendo desprezado os aspectos “morais”. Fontes Pereira de Melo, o pai da Regeneração, é o alvo predilecto da crítica. Em contrapartida, ganham audiência algumas figuras de políticos do passado que parecem representar o oposto de Fontes. Não o “material”, mas o “ideal”, não o “pão”, mas a “alma”. O caso mais paradigmático é o de Passos Manuel, morto em 1862. Chefe da revolução de Setembro, manchada pela ilegitimidade, torna-se um dos heróis do liberalismo. Este artigo analisa a sua ascensão ao panteão liberal. No final do século XIX, monárquicos e republicanos parecem estar estranhamente de acordo quanto à “crise moral” da nação e aos dois modelos políticos representados por Fontes e Passos – o “dinheiro” versus o “ideal”.
O Integralismo Lusitano mantém a diabolização de Fontes e a mitificação/idealização de Passos Manuel, por razões que se prendem com a sua estratégia de combate político e doutrinário contra o liberalismo e a República.
Finalmente, a cultura histórica ligada ao Estado Novo põe fim ao mito de Passos e reabilita (ainda que moderadamente) Fontes e a Regeneração.
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Magda Pinheiro
Transportes e urbanização na margem sul do estuário do Tejo: o concelho de Almada
Este artigo traça a história da relação entre o crescimento urbano e os transportes disponíveis no concelho de Almada desde meados do século XIX. Embora desde esta época se possa contar com o barco a vapor, os caminhos de ferro, previstos desde os finais do século XIX, nunca chegaram a ser concretizados. É apenas em 1999 que o caminho de ferro é instalado na ponte. A expansão urbana foi feita de forma caótica com a ajuda do autocarro e, posteriormente, do transporte individual. Este tornou mais difícil o regresso dos “pendulares” ao transporte público.
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Teresa Rodrigues e Maria Luís Rocha Pinto
Migrações em Portugal no Século XX
Ao longo de todo o século XX Portugal cresceu na dependência das variações de intensidade dos fluxos migratórios. A vertente emigratória teve um papel predominante nessa evolução até meados da década de 70 mas, à medida que avançamos no tempo, as migrações internas irão adquirir uma importância crescente, aliando-se à alteração dos comportamentos globais face à fecundidade e à mortalidade. Os novos padrões de comportamento explicam em parte a evolução populacional portuguesa e decorrem a par da transferência interna de indivíduos do interior para o litoral e também para os centros urbanos.
Em termos de média duração, sem o efeito migratória (emigração e migrações internas), o aumento demográfico das gentes portuguesas teria sido quase uniforma até final dos anos 60, diminuindo muito rapidamente a partir desse momento, para voltar a aumentar nos anos 90, mas agora, factor inédito na história portuguesa, devido à imigração.
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Xosé Veiga Alonso
A recente historiografia política sobre o século XIX espanhol: balanço crítico e bibliográfico
O objectivo deste artigo é o de fornecer um balanço sumário acerca de alguns dos temas que nos últimos anos captaram a atenção dos investigadores especializados na história política de Espanha do século XIX. Em concreto, dá-se atenção a três grandes questões: as origens revolucionárias do Estado contemporâneo, o processo de construção do Estado e de nacionalização dos espanhóis e a valorização da actividade político-eleitoral, com especial incidência no período da Restauração borbónica.
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