Ler História 45 / 2003


Editorial

Estudos

Immanuel Wallerstein
Escrever História

Ana Isabel Buescu
A Persistência da Cultura Manuscrita em Portugal nos Séculos XVI e XVII

Ana Maria Pina
O Resgate de D. Miguel, o “Príncipe Infeliz”

Irene Vaquinhas
As Mulheres na Imprensa Regional: o caso de “A Comarca de Arganil”

Teresa Rodrigues Veiga
A População Portuguesa no Último Século: permanências e mudanças

José Luís Cardoso e Maria Manuela Rocha
Corporativismo e Estado-Providência (1933-1962)

Márcia Maria Menendes Motta
Sesmarias no Brasil: história e conflito em Oitocentos

Hernâni Resende
Pensamento Filosófico de Vasco Magalhães-Vilhena

Estudos Breves

Rui Manuel Brás
As relações entre socialistas e comunistas nos anos de 1923-1925

Rui Manuel Brás
As relações entre socialistas e comunistas nos anos de 1923-1925

Materiais da Memória

Recensões

 

Resumos

Ler História 42 / 2002

Immanuel Wallerstein
Escrever História

Neste artigo o autor aborda a questão da escrita da história, salientando a sua complexidade e características próprias. Para tal delimita e traça as linhas divisórias entre quatro tipos de produção de saber: os contos de ficção, a propaganda, o jornalismo e a história, tal como é escrita pelas pessoas a que chamamos historiadores. Refere ainda a relação que existe entre escrever história com o lembrar e o esquecer, com o secretismo e a publicidade, com a defesa e a refutação. Por fim, determina qual é para si o papel do historiador no mundo actual e a importância do que escreve.

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Ana Isabel Buescu
A Persistência da Cultura Manuscrita em Portugal nos Séculos XVI e XVII

A tipografia é, sem dúvida, um dos “emblemas” que inauguram a Modernidade, pelos números em jogo e pelas transformações que opera, a curto e a longo prazo, na transmissão da memória e dos saberes. Mas apesar da “revolução do impresso”, a permanência e a difusão manuscritas das obras culturais mantém uma expressão assinalável na Época Moderna. A reavaliação de formas e mecanismos da comunicação através da palavra escrita na sociedade europeia de Antigo regime é uam das vertentes que a mais recente historiografia sobre a cultura escrita tem procurado desenvolver. Sondar, a partir de um conjunto necessariamente diversificado de fontes, a permanência e a vitalidade dessa circulação manuscrita em Portugal ao longo dos séculos XVI e XVII, procurando tipificar e exemplificar várias das modalidades de que se reveste, é o objecto deste estudo.

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Ana Maria Pina
O resgate de D. Miguel, o “Príncipe infeliz”

Este artigo analisa o processo de reabilitação de D. Miguel levado a cabo por Oliveira Martins e continuado, no século XX, pelos intelectuais da direita autoritária e nacionalista. O. Martins - no quadro da sua crítica da leitura da revolução liberal feita por Herculano - vê em D. Miguel o símbolo de um país à deriva desde há séculos. O que distingue o Príncipe é o seu amor profundo pela nação, amor retribuído pelo povo que acreditou que ele podia ser o salvador do país. Mas, ele acabou por ser vítima do destino da nação.

Os intelectuais do Integralismo Lusitano leram apaixonadamente o Portugal Contemporâneo. Contudo, o D. Miguel do historiador oitocentista, governante de um país moribundo, não se identificava com a sua visão da história de Portugal. Se Martins padecera de cepticismo relativamente ao país, eles, pelo contrário eram firmes na crença da perenidade da Pátria. Daí que, para eles, D. Miguel tivesse sido antes o símbolo de uma nação cheia de vitalidade, em luta de morte contra um inimigo mais poderoso – os liberais apoiados pelo “estrangeiro”. Os historiadores do Estado Novo prosseguiram este caminho, com a vantagem para eles, de D. Miguel ter ganho um novo sentido, não acessível aos integralistas, durante a República: o Príncipe derrotado fora finalmente vingado por Salazar.

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Irene Vaquinhas
As Mulheres na Imprensa Regional: o caso de “A Comarca de Arganil” (1901-1980)

Neste artigo é feito um estudo da colaboração feminina no jornal A Comarca de Arganil desde a sua fundação (em 1901) até 1980. Através da análise dos artigos publicados (número, temas abordados, autorias, etc.) procura-se captar o contributo das mulheres para a difusão da mensagem discursiva do jornal e esclarecer como é que estas imprimiram a sua identidade nos artigos que redigiram.

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Teresa Rodrigues Veiga
A População Portuguesa no último século: permanências e mudanças

Durante o século XX a população portuguesa terá aumentado cerca de 91%, reflectindo uma tendência positiva moderada que, contudo sofreu variações significativas ao longo da centúria. Quando comparado com os maioria dos estados europeus, Portugal continuaria a ser um local onde a fecundidade e a mortaidade, ambas superiores à média europeia, mantiveram uma relação positiva, geradora de um saldo fisiológico que poderia ter fomentado um rápido aumento do número de residentes, não fora a intervenção dos movimentos migratórios, de sinal negativo. À emigração, uma constante na história contemporânea de Portugal, junta-se o fenómeno imigratório da última década do século, factor inédito na história portuguesa e em relação ao qual se erguem enormes expectativas.

Neste artigo, a autora descreve a evolução da população portuguesa ao longo de todo o século XX, analisando o comportamento demonstrado pelas diferentes variáveis demográficas.

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José Luís Cardoso e Maria Manuela Rocha
Corporativismo e Estado Providência (1933-1962)

Visando contribuir para uma maior compreensão da matriz filosófica e ideológica da política social do estado Novo, este artigo analisa alguns testemunhos inseridos numa vasta literatura de índole doutrinal que serviu de fundamento ao modelo social deste período. Na fase inicial do regime dominou o ideal corporativo que reservava para o Estado um papel de coordenação dos organismos que, de forma voluntária, deveriam ser animados pelos interessados na previdência social. A falência deste modelo, bem como o desencanto com os resultados da actuação entretanto assumida pelo Estado, são patentes nas reflexões críticas que se desenvolvem na década de 50 e de que a Revista do Gabinete de Estudos Corporativos será eco fundamental.

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Márcia Maria Menendes Motta
Sesmarias no Brasil: história e conflito em Oitocentos

Este artigo discute a historicidade dos conflitos agrários no Brasil e procura refletir sobre os significados da concessão de sesmaria, em terras coloniais, e a legislação subsequente que procurou definir os procedimentos para sua regularização. A autora procura demonstrar que embora o sistema de sesmaria tenha sido extinto em 1822, o século XIX caracterizou-se pela manutenção do poder dos terratenentes e pela permanência da carta de sesmaria, como “mito” inaugural da história da ocupação do lugar. Ao acompanhar os embates entre beneditinos e um grande fazendeiro do Rio de Janeiro, a autora destaca o poder da carta de sesmaria na construção do direito à propriedade de ambos os litigantes.

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Rui Brás
As relações entre socialistas e comunistas nos anos 1923-1925

Neste estudo pretende-se fazer uma breve abordagem sobre as relações entre o Partido Socialista Português e o Partido Comunista Português, à luz da documentação do Arquivo do Partido Socialista integrado no IAN/TT.
No contexto da 1ª República, o nascimento do PCP introduziu um novo dado na vida política e social. As suas relações com o PSP pautaram-se por uma certa cordialidade, apesar da desconfiança dos socialistas em relação às tentativas de hegemonia na esquerda portuguesa. Dá-se especial relevo às tentativas socialistas e comunistas para unir as organizações da esquerda numa frente única, de modo a fazer face aos perigos que ameaçavam a República.

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