Ler História 47 / 2004
Dossier: Portugal e África no século XX
Ana Paula Pires
“Os tentáculos do polvo atravessam o oceano”: a aventura africana da Companhia Industrial de Portugal e Colónias na I República
Maria Alexandre Dáskalos
Política económica de Norton de Matos para Angola: 1912-1915
José Augusto Pereira
A economia de Cabo Verde no contexto do Estado Novo (1940-1960)
Maria Fernanda Rollo
O Programa de Assistência Técnica: o interesse americano nas colónias portuguesas
José Mangueira
A actividade da indústria petrolífera em Angola antes da independência
Luís Nuno Rodrigues
George Ball em Lisboa: os Estados Unidos e o problema colonial português em 1963
Estudos
Maria Norberta Amorim
Comportamentos demográficos de Antigo Regime na Península Ibérica
Orlando Simões
A institucionalização da vitivinicultura portuguesa: o caso dos vinhos de qualidade
Rita Martins de Sousa
A unificação monetária de Portugal (Continente e Ilhas)
Homenagem a Pierre Vilar
Depoimentos de Rosa CONGOST, Michel Drain, Miriam Halpern PEREIRA, Magda PINHEIRO, Nicolás SÁNCHEZ-ALBORNOZ e Bernard VINCENT.
Bio-bibliografia de Pierre Vilar
Resumos
Ler História 47 / 2004
Ana Paula Pires
A aventura africana da Companhia Industrial de Portugal e Colónias durante a I República
É com o final da I Guerra Mundial que se assiste ao renascer do interesse pelas possessões africanas: uma vez desaparecida a ameaça germânica, a soberania portuguesa está segura e as colónias solicitam investimento e desenvolvimento. Desde o final de 1919 que A Opinião e o Diário de Notícias, diários afectos à Companhia Industrial de Portugal e Colónias, sustentam que o único modo de afastar de vez a “cobiça” externa, é a ocupação efectiva dos territórios africanos. Confiante nas possibilidades de negócio em África, a Portugal e Colónias faz vários investimentos em S. Tomé e Príncipe e em Angola. Esse é o tema que este artigo analisa.
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Maria Alexandre Dáskalos
Política económica de Norton de Matos para Angola: 1912-1915
Este artigo analisa a política económica de Norton de Matos para Angola, no primeiro período do seu governo-geral, entre 1912-1915. A ele se deve uma importante reforma administrativa visando ocupar o território com civis, a defesa da melhoria de vida dos colonos, uma nova política de trabalho indígena onde se introduziu os sistemas de contrato e se criou legislação protegendo os autóctones dos abusos coloniais, ao mesmo tempo que os integrava numa economia de mercado. Assiste-se ainda ao lançamento das infra-estruturas estabelecendo uma rede de estradas e caminhos, bem como a um impulso decisivo para a construção dos caminhos-de-ferro. A fundação da cidade do Huambo é do ponto de vista das obras públicas e urbanização parte de uma estratégia global e integrante que este artigo analisa.
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José Augusto Pereira
A economia de Cabo Verde no contexto do Estado Novo (1940-1960)
Nos anos 40 do século passado, Cabo Verde enfrentou duas graves crises de fome causadoras de milhares de vítimas. Tais catástrofes demonstraram a vulnerabilidade de um arquipélago de recursos quase inexistentes e onde as finanças locais, cronicamente deficitárias, mostravam extrema dificuldade em socorrer as vítimas e se revelavam incapazes de prover ao desenvolvimento das ilhas. Neste sentido, as elites locais suplicam à metrópole que tome as rédeas do desenvolvimento, com medidas que aproveitassem a sua riqueza estratégica e conferissem valor às suas produções. O I Plano de Fomento, implantado na década de 50, representará uma esperança de arranque de Cabo Verde, contrariada posteriormente pela escassez das verbas consignadas.
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Maria Fernanda Rollo
O Programa de Assistência Técnica: o interesse americano nas colónias portuguesas
Em finais de 1948 a ECA (Economic Cooperation Administration) lançou um programa de assistência técnica integrado no que vulgarmente conhecemos por Plano Marshall. O programa desenvolveu-se na década seguinte, prolongando-se para além do próprio ERP (European Recovery Program), evoluindo no sentido de uma autêntica campanha de produção e produtividade dirigida às economias europeias e aos seus territórios ultramarinos. Este artigo sintetiza os principais aspectos da história da aplicação do programa americano de assistência técnica nas colónias portuguesas. Aponta os principais objectivos que presidiram à sua utilização e a forma como as colónias se 'abriram' aos estudos e aos projectos americanos. O clima de concertação existente entre os responsáveis portugueses e americanos permitiu um conjunto de iniciativas dedicadas sobretudo a Angola e a Moçambique, criando expectativas quanto aos seus resultados.
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Luís Nuno Rodrigues
George Ball em Lisboa: os Estados Unidos e o problema colonial português em 1963
O presente artigo analisa a visita a Lisboa, em Agosto de 1963, do subsecretário de Estado da administração norte-americana, George Ball. O objectivo desta visita era propor ao governo português uma solução para a questão colonial que passava por um plano de descolonização dos territórios portugueses dentro de um prazo determinado. Apesar de demonstrar um empenhamento genuíno por parte dos Estados Unidos em resolver os seus diferendos com Portugal e em contribuir para a resolução da questão colonial portuguesa, esta iniciativa não teve resultados práticos, uma vez que Ball deparou com a completa intransigência do chefe do governo português, Oliveira Salazar
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Maria Norberta Amorim
Comportamentos demográficos de Antigo Regime na Península Ibérica
Embora o levantamento da população dos Estados se apresente hoje como uma rotina, ela é recente, não ultrapassando frequentemente século e meio. Contudo, mesmo na ausência de recenseamentos, a análise demográfica torna-se possível quando se dispõe de fontes sistemáticas, como os registos paroquiais de baptizados, casamentos e óbitos (disponíveis para a Europa Católica desde os finais o século XVI), tratados por metodologias adequadas. Utilizando esse recursos, têm sido identificadas profundas diferenças nos comportamentos de mortalidade e nupcialidade de Antigo Regime nas regiões ibéricas, e algumas diferenças, no plano da fecundidade, que, interagindo com o fenómeno da mobilidade, podem levar a uma explicação endógena dos ritmos diferenciados de crescimento e expansão das respectivas populações.
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Orlando Simões
A institucionalização da vitivinicultura portuguesa: o caso dos vinhos de qualidade
O autor analisa as condições para a institucionalização da vitivinicultura portuguesa, em particular para o caso dos vinhos de qualidade, com especial destaque para o vinho do Porto. É primeiramente abordada a questão da qualidade dos vinhos à luz da teoria das convenções, apelando a diferentes convenções de qualidade para explicar as diferentes formas de comercializar o vinho. Seguidamente analisam-se as circunstâncias históricas que levaram à diferenciação dos vinhos de qualidade em Portugal. No caso particular do produto “Vinho do Porto”, discute-se a origem das normas fundamentais da sua produção, circulação e consumo, assim como a criação de um conjunto de dispositivos institucionais para a protecção nacional e internacional da denominação de origem “Porto”. O artigo termina com a análise dos restantes vinhos de qualidade, mais precisamente dos que resultaram das demarcações do início do século XX.
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Rita Martins de Sousa
A unificação monetária de Portugal (Continente e Ilhas)
O artigo analisa a unificação monetária de Portugal concretizada entre 1879 (Madeira) e 1931 (Açores). Analisa-se primeiramente o quadro monetário das ilhas, onde dominava na circulação a moeda estrangeira e a moeda insulana ou moeda fraca, enquanto moeda com ágio em relação à moeda continental. A fraca integração do espaço económico insular com o espaço económico continental justificará estas características. As propostas de integração monetária apresentadas no século XIX serão analisadas num segundo momento. Portugal confrontou-se com conflitos de interesses na unificação do sistema monetário com o espaço insular. Um longo século mediou entre a alteração do estatuto administrativo e a unificação monetária portuguesa. Contudo, enquanto na Madeira a oposição às propostas de integração não se fizeram sentir, nos Açores os ecos da oposição no parlamento adiaram a integração para 1931.
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