Ler História 48 / 2005


Dossier: Cidades e Espaços Urbanos

Magda Pinheiro e Frédéric Vidal
Apresentação

Territórios do Urbano

Magda Pinheiro
O subúrbio entre o arrabalde antigo e a metrópole. Identidade e temporalidade

Maria Alexandre Lousada
Espacialidade em debate. Práticas sociais e representações em Lisboa nos finais do Antigo Regime

Paula Guilhermina Fernandes
Cidade, casa e trabalho. O centro do Porto no início do século XIX

Laurent Vidal
Os «trilhos» da história do Brasil urbano

Işık Tamdoğan
O bairro (mahalle) no espaço otomano e na Turquia actual. A cidade de Adana no século XVIII

Percursos Urbanos

Frédéric Vidal
A hipótese da cidade imóvel. Itinerários urbanos numa perspectiva comparada

Alain Faure
Emprego industrial em Paris e residência operária (1860-1914): pluralidades de distâncias, diversidade dos modos de vida

Representações da Cidade e dos Citadinos

Jorge Fernandes Alves
Emigração e sanitarismo. Porto e Brasil no século XIX

Nuno Pinheiro
Ver a cidade / Fotografar a cidade


Tiago Baptista
Na minha cidade não acontece nada. Lisboa no cinema (anos 20 – cinema novo)

Uma Agenda

Richard Rodger
O futuro do passado urbano: novas direcções para a história urbana britânica?

História e Informática

Carlos Maurício
Recursos electrónicos para o estudo da nação, etnicidade e sociedade global

Recensões

Actualidade Científica

 

Resumos

Ler História 48 / 2005

Magda Pinheiro
O subúrbio entre o arrabalde antigo e a metrópole: identidade e temporalidade

A primeira parte do artigo descreve a história dos termos subúrbio e metrópole, definindo igualmente os subúrbios de Lisboa em termos de espaço e temporalidade.
O estudo de Almada, cidade da margem esquerda do Tejo, é feita a partir da imprensa e da literatura local entre 1850 e 1930. As notícias são utilizadas em particular para o estudo da imagem da sociedade local. Desde os anos 20 do século XX encontramos a ideia de decadência associada à transformação da sociedade. A forma como a memória histórica então se constrói patenteia a valorização do unanimismo patriótico e a ocultação dos conflitos locais.

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Maria Alexandre Lousada
Espacialidade em debate: práticas sociais e representações em Lisboa nos finais do Antigo Regime

A concepção da cidade como um produto da história em permanente transformação abre novas perspectivas nos estudos urbanos. Os conceitos de «espaço socialmente produzido» e de «espacialidade», desenvolvidos pelos geógrafos, constituem um importante contributo para o novo olhar sobre a cidade.
Este artigo apresenta uma breve leitura em torno desses conceitos articulada em três partes. Primeiramente uma breve apresentação do percurso da história e da geografia urbana; segue-se a apresentação dos conceitos de espaço, lugar e espacialidade. No final ensaia-se a aplicação deste novo olhar na cidade de Lisboa nos finais do Antigo Regime.

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Paula Guilhermina Fernandes
Cidade, casa e trabalho. O centro do Porto no início do século XIX

A autora aborda a questão da população activa num contexto urbano na época pré-industrial. Cruzando informações cujo centro é a lista dum recenseamento militar no Porto, em 1800, relativo a duas freguesias centrais da cidade, a Sé e a Vitória, a autora analisa a composição dos fogos e a actividade individual, procurando ver se estamos perante uma economia familiar de adaptação, a meio caminho entre uma economia familiar de produção e uma economia de assalariados. A existência de um numeroso sector de pequeno comércio e artesanato sugere um contexto de relativo desenvolvimento da região rural envolvente, provavelmente impulsionador de uma estrutura económica pulverizada detectada.

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Laurent Vidal
Os «trilhos» da história do Brasil urbano

Apoiando-se num balanço recente das pesquisas sobre a história do Brasil urbano, este texto explora algumas pistas de reflexão. A aposta é a de colocar no centro das análises a cidade como objecto de estudo específico, uma cidade com contornos fluidos e reordenamentos permanentes. Neste aspecto, os trabalhos sobre as géneses urbanas, as temporalidades e a multiplicidade dos ritmos sociais na cidade surgem como particularmente promissores.

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Işik Tamdoğan
O bairro (mahalle) no espaço otomano e na Turquia actual. A cidade de Adana no século XVIII

O mahalle (bairro) é uma noção omnipresente tanto nas cidades otomanas como nas da Turquia actual. É esta persistência ao longo do tempo que aqui nos interessa. Este quadro de sociabilidade que exprime a pertença a uma cidade surge como uma configuração (feita de indivíduos diversamente ligados uns aos outros) de geometria variável através do tempo e do espaço. Por outro lado, o facto de os costumes mudarem mais lentamente do que a arquitectura e as formas urbanas, leva-nos a pensar que longe de ter totalmente desaparecido, o bairro retoma novas configurações nas cidades da Turquia de hoje, que devem ainda encontrar o seu equilíbrio entre a procura de segurança (ou comunitarismo) e a de liberdade (ou anonimato).

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Frédéric Vidal
A hipótese da cidade imóvel. Itinerários urbanos numa perspectiva comparada

Este artigo tem por ponto de partida observações efectuadas no âmbito de um estudo sobre um grupo de habitantes do bairro de Alcântara em Lisboa. O autor propõe algumas soluções operativas para encarar a história social da cidade numa perspectiva comparada. O estudo de caso sobre Alcântara poderia ter conduzido à elaboração de um modelo incerto acerca da relativa estabilidade residencial da população lisboeta face a outras grandes cidades europeias. Comparar níveis de mobilidade residencial implica situar estes comportamentos sociais frente a um conjunto de constrangimentos ou de estimulações bastante diversificado. Uma mudança de perspectiva é necessária. Mais que o nível de estabilidade residencial é o valor dado ao elo residencial que tem de ser questionado.

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Alain Faure
Emprego industrial em Paris e residência operária (1860-1914): pluralidade das distâncias, diversidade dos modos de vida

Este artigo aborda a questão das relações entre domicílio e trabalho na classe operária parisiense. Actualmente, a historiografia francesa afirma como uma evidência que numa época em que a jornada de trabalho era muito longa e os meios de transporte inexistentes ou inacessíveis, o operário e a sua família habitavam perto do local de trabalho. De facto, existiu sempre um hiato, obrigando muitos a longas caminhadas diárias. É necessário pensar que num mesmo momento coexiste uma variedade de situações que vão de coexistência espacial ao máximo distanciamento permitido pelos transportes. Esta variedade respeita à diversidade das próprias indústrias, às opções tomadas pelos indivíduos e aos equilíbrios familiares. Este artigo advoga uma história social dos transportes centrada na sua utilização (ou não utilização), quando até hoje a atenção tem recaído unicamente sobre a decisão política.

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Jorge Fernandes Alves
Emigração e sanitarismo – Porto e Brasil no século XIX

A emigração não era apenas um fenómeno demográfico, mas também uma troca de patogenias. Abordando um destino tradicional, Porto-Brasil, durante o século XIX, este artigo analisa o efeito da febre-amarela e de outras epidemias (cólera, peste bubónica…) como representação sobre os destinos da emigração, o efeito do medo como estratégia de dissuasão, antes que as novas tecnologias sanitárias de saúde pública tivessem superado os desastres epidémicos.

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Nuno Pinheiro
Ver a cidade / Fotografar a cidade

O objecto deste artigo é o conhecer a forma como em Portugal as cidades têm sido vistas pela fotografia, em especial até aos anos 1930, altura em que há mudanças técnicas e artísticas na fotografia, mas também mudanças políticas importantes em Portugal. O que é actualmente conhecido por fotografia de rua e que tem sido uma das formas mais importantes de fazer fotografia desde os anos 1930, não é a única, nem foi a primeira forma de fotografar a cidade. O próprio espaço urbano, com os seus edifícios, foi um tema importante desde os primeiros tempos da fotografia.

O ruralismo tem sido descrito como predominante nas manifestações culturais portuguesas, por vezes produzidas por citadinos, do final de Oitocentos e inícios de Novecentos. A temática rural que domina a maior parte da literatura e é claramente dominante nas artes plásticas, sendo mais difícil de reconhecer na música pela sua natureza mais abstracta, está presente na obra de quase todos os fotógrafos amadores de antes da Grande Guerra.

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Tiago Baptista
Na minha cidade não acontece nada. Lisboa no cinema (anos 20 – cinema novo)

Este artigo analisa a história da representação da cidade de Lisboa no cinema português até aos anos 60. Até final dos anos 20, Lisboa foi frequentemente definida em oposição ao conjunto de espaços e de comunidades rurais idealizadas que constituem o grosso da ficção muda. Nas décadas seguintes, a cidade passa a estar no centro da acção das chamadas «comédias à portuguesa», embora os espaços e as sociabilidades urbanas representadas nestes filmes sejam em quase tudo devedoras ainda de uma concepção ruralizante e moralizadora da capital. Pelo contrário, os primeiros filmes do «cinema novo», como obras de resistência política e de crítica social que também foram, recorreram justamente aos espaços públicos mais modernos e às sociabilidades lisboetas mais conflituosas para metaforizar a claustrofobia política e social que se vivia então no país.

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Richard Rodger
O futuro do passado urbano: novas direcções para a história urbana britânica?

Este artigo traça o balanço da história urbana britânica publicada nos últimos quarenta anos e procura identificar oportunidades e agenda para futuras pesquisas. É uma visão pessoal do autor, baseada na sua experiência de dezoito anos como editor da revista Urban History, como director do Centre for Urban History e como colaborador da recente publicação em três volumes sobre a história urbana britânica de 600 a 1950.
O autor conclui que apesar da consolidação e estudo sistemático das cidades britânicas há ainda muito trabalho para fazer. O enveredar por tecnologias digitais é considerado como uma das futuras direcções para o passado. Outras direcções incluem a utilização de entrevistas orais e de vídeo, uma maior atenção para o período posterior a 1950, uma maior ênfase para a história ambiental urbana e uma maior abertura à inclusão da Irlanda como parte do sistema urbano das Ilhas Britânicas.

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