Ler História 50 / 2006


Dossier: Caminhos para o Futuro: agendas em análise

Jean-Frédéric Schaub
História da Europa e histórias nacionais

Jorge Flores
Expansão portuguesa, expansões europeias e mundos não-europeus na época moderna

Norberta Amorim
Demografia histórica e história da família

Magda Pinheiro
A biografia em Portugal

José Neves
Depois do «Fim da História»

Estudos

Maria Carlos Radich
Meio físico e agricultura
– uma questão oitocentista

Maria Fernanda Rollo
Heranças de guerra: o reforço da autarcia e os «novos rumos» da política económica

Críticas e Debates

Carlos Maurício
Liberdade, igualdade e fraternidade no limiar do século XXI

Recensões

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ÍNDICES (1983-2006)

Índice ordinal
Índice ideográfico
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Resumos

Ler História 50 / 2006

Jean-Frédéric Schaub
História da Europa e histórias nacionais

Como construir uma história da Europa? É a esta questão que o autor procura dar resposta. Para a sua concretização propõe a realização de uma história que qualifica de euro-colonial, ultrapassando-se a história institucionalizante das instituições, contrária a uma história do direito, bem mais rica e complexa. Para tal será necessário renunciar a colocar a questão da Europa em termos de identidade, preferindo uma aproximação em termos de processo. Será ainda preciso rejeitar convictamente a ideia de que a europeização da Europa possa ser pensada sem ter em conta a europeização do mundo.

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Jorge Flores
Expansão portuguesa, expansões europeias e mundos não europeus na época moderna

O artigo passa brevemente em revista a historiografia da expansão portuguesa desde finais do século XIX, na sua relação com os condicionalismos político-ideológicos de cada época, para se centrar – com vista ao estabelecimento de uma agenda para o futuro – na discussão das possibilidades e limites dos três principais caminhos que actualmente se podem trilhar no que respeita à investigação nesta área. O primeiro aposta nas conexões entre história da expansão portuguesa e história das sociedades não-europeias. O segundo tende a olhar a expansão portuguesa como um fenómeno essencialmente gerado e gerido por europeus, advogando não raro um regresso à história imperial. Uma «terceira via», assente nas propostas mais recentes de autores como Sanjay Subrahmanyam e Serge Gruzinksi, aponta para a inserção da expansão portuguesa numa história global do período moderno que seja integrativa, mais do que comparativa. Sugere-se ainda uma reflexão acerca dos mecanismos e instrumentos de projecção, sobretudo internacional, da expansão portuguesa enquanto domínio de investigação e de ensino.

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Maria Norberta Amorim
Demografia Histórica e História da Família. Perspectivas para um percurso integrado

Para um estudo sedimentado do social, importa que a Demografia Histórica não abandone a aplicação disciplinar, construindo bases seguras para a compreensão do seu próprio objecto e posicionando-se para o enriquecimento de outras abordagens, entre as quais sobressai, além da História da População, a História da Família.
A satisfação de tantos pontos em agenda, tanto em Demografia Histórica como em História da Família, pode passar por projectos científicos mais ambiciosos, reunindo equipas de investigadores sobre problemáticas definidas e que partilhem com toda a comunidade científica não só os seus resultados, mas também as suas bases de dados, se sistematicamente organizadas.

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Magda Pinheiro
A biografia em Portugal

O objectivo deste artigo é fazer o balanço das biografias publicadas em Portugal na última década e traçar algumas das linhas desejáveis de evolução. Durante este período, a biografia permitiu o contacto entre historiadores profissionais e um público mais alargado, apesar de o século XX, os líderes políticos, os artistas e os escritores mais conhecidos terem sido os temas mais estudados.
Contudo, o espaço dedicado às mulheres, aos artistas ou militantes políticos menos conhecidos, bem com às pessoas comuns é pequeno e esta poderá ser uma direcção com futuro. Podemos igualmente salientar que a desconstrução e a construção da personalidade individual entendida como um processo negociado pelo indivíduo com a sociedade ainda não está presente nas biografias produzidas em Portugal.

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José Neves
Depois do «fim da História»

Nos últimos anos, no contexto de financiamentos comunitários europeus e de políticas estatais nacionais, vários jovens iniciaram um percurso de investigação próprio. Algumas das investigações levadas a cabo conheceram já o seu epílogo e muitas outras estão ainda em curso. Procurar indícios de eventuais tendências historiográficas que se anunciem nesse conjunto de investigações, situando-as comparativamente às teses de doutoramento realizadas desde inícios da década de 70 por anteriores gerações de historiadores portugueses, é o objectivo deste texto. Para o efeito realizou-se um levantamento estatístico relativo a teses de doutoramento em História realizadas desde 1972. Propõe-se uma leitura dos resultados estatísticos que se cruza com algumas notas de observação pessoal relativas à experiência do autor enquanto jovem historiador.

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Maria Carlos Radich
Meio físico e agricultura – uma questão oitocentista

Neste artigo abordam-se os passos dados pela Agronomia oitocentista, no sentido de equacionar a relação entre clima, solo e produção agrícola, no caso português. O primeiro passo constituiu em estudar o próprio meio. O segundo estabeleceu as implicações do meio nos factos da agricultura. O terceiro inseriu os resultados obtidos no quadro económico e social. As orientações para a agricultura portuguesa acabaram por ser estabelecidas na harmonia, ou na oposição, entre indicações deduzidas do meio e as que decorriam do contexto económico e social.

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Maria Fernanda Rollo
Heranças de Guerra: o reforço da autarcia e os «novos rumos» da política económica

Os efeitos da Guerra conduziram à reafirmação da intenção da auto-suficiência e à definição das principais apostas dos anos 50 – produção de hidroelectricidade, desenvolvimento dos transportes, incremento da produção agrícola e procura de uma certa forma de industrialização – em íntima associação com o reforço da presença do Estado na actividade económica. O enunciado, parte essencial do modelo económico que prevaleceria até ao final da década, contava ainda com a participação das colónias, pelo alargamento do conceito de autarcia, de forma a englobá-las como parte integrante do espaço económico nacional.

Resolvidas algumas hesitações e ultrapassados diversos impasses, o país do pós-Guerra, envolvido num processo de crescente abertura ao exterior e de internacionalização da sua economia, encetou um processo de desenvolvimento económico e social, participando do clima de prosperidade que marcou a conjuntura internacional nas duas décadas seguintes.

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