Ler História 51 / 2006


Dossier: Guerras Civis

Fátima Sá e Melo Ferreira e Fernanda Rollo
Apresentação

Jordi Canal
Guerra civil y contrarrevolución en España y en la Europa del sur en el siglo XIX

António Monteiro Cardoso
As guerrilhas miguelistas do Algarve no contexto da guerra civil de 1832-34

Manuel Pérez Ledesma
La guerra civil y la historiografia : no fue posible el acuerdo

Manuel Loff
Memória da Guerra de Espanha em Portugal através da historiografia portuguesa

Estudos

Eliana Almeida de Souza Rezende
Ventre Urbanos - Cidades e sanitarismo

Gladys Sabina Ribeiro
Viagens e histórias de imigrantes portugueses na cidade do Rio de Janeiro na Primeira República: a trajectória de Florindo Gomes Bolsinha

Daniel Melo
«Beiras e Pátria»: o regionalismo beirão e as suas relações com o Estado e a sociedade civil no século XX

Documentos em Estudo

António José Pereira da Costa
Raul Brandão: capitão de infantaria, republicano convicto

Recensões

Actualidade Científica

Resumos

Ler História 51 / 2006

Jordi Canal
Guerra civil e contra-revolução em Espanha e na Europa do Sul no século XIX

A denominação «guerra civil» foi aplicada quase exclusivamente, na história espanhola, ao conflito de 1936-1939. Contudo, a Espanha sofreu, durante a maior parte do século XIX, os efeitos de uma longa guerra civil, descontinua mas persistente. As guerras carlistas constituíram a principal expressão destas lutas intra hispânicas. Uma interpretação do século XIX espanhol que acentue a componente fratricida dos confrontos não implica nenhum tipo de valorização positiva ou negativa do passado. Nem sequer o torna excepcional. A Espanha partilha com os países da Europa do Sul – Portugal, Espanha, França, Itália – a característica de ter vivido, no século XIX, uma importante guerra civil, estruturada em torno do eixo revolução / contra-revolução.

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António Monteiro Cardoso
As guerrilhas miguelistas do Algarve no contexto da guerra civil de 1832-34

As guerrilhas miguelistas do Algarve representam um fenómeno surpreendente devido à sua longa duração. As contradições entre a população da serra e a do litoral constituíram uma condição decisiva, criando dois blocos opostos, numa vasta área confrontante. Uma forte identidade entre as populações da serra e uma liderança capaz de as mobilizar permitiram desencadear uma importante movimentação social, logo que as circunstâncias da guerra civil ofereceram uma oportunidade favorável. O estudo deste caso ilustra a necessidade de estudar a guerra civil, na sua diversidade: as diferentes guerras civis de que se compõe a Guerra Civil.

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Manuel Pérez Ledesma
A guerra civil e a historiografia: não foi possível o acordo

O artigo examina as diferentes interpretações da Guerra Civil de Espanha, desde o início do conflito até à actualidade. Em 1936-39 e durante a ditadura, existiam duas visões em conflito: para os franquistas, fora a luta entre a Espanha e a Anti-Espanha, e para os republicanos, a luta entre o povo e os militares. Após a transição para a democracia, os historiadores estiveram próximo de um acordo sobre a multiplicidade das causas e as responsabilidades universais da guerra. Mas recentemente iniciou-se um novo confronto, com as interpretações neo-franquistas a culparem a esquerda pelo eclodir da guerra.

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Manuel Loff
Memória da Guerra Civil de Espanha em Portugal através da historiografia portuguesa

A memória da Guerra de Espanha ocupa um lugar especialmente simbólico nas sociedades europeias. Portugal não é excepção. O conflito desempenhou um papel central na definição política e consolidação do regime salazarista, no seu posicionamento internacional numa fase particularmente tensa das relações internacionais. Representa a fase de maior repressão exercida pelo regime sobre a oposição e, de forma muito cruel, sobre as populações da raia espanhola, divididas entre o temor da repressão e a solidariedade humana para com refugiados republicanos que procuraram refúgio em Portugal das represálias brutais dos franquistas. Ainda hoje, a memória da Guerra de Espanha tem um papel instrumental no debate político e ideológico português e internacional.

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Eliana Almeida de Souza Rezende
Ventres urbanos – Cidades e sanitarismo

Este artigo parte da análise de duas coleções de fotografias consideradas como conjuntos documentais que estão interseccionadas por temáticas que se interpenetram. Analisa a produção fotográfica de dois fotógrafos em duas cidades: São Paulo e Lisboa e possui como eixo de análise o discurso sanitário.

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Gladys Sabina Ribeiro
Viagens e histórias de imigrantes portugueses na cidade do Rio de Janeiro na Primeira República: a trajectória de Florindo Gomes Bolsinha

A presença portuguesa no Rio de Janeiro foi marcante no início do século XX. Em 1906, os lusitanos chegaram a constituir um quinto da população e metade da mão-de-obra activa na cidade. As disputas no mercado de trabalho acabaram por reforçar sentimentos antilusitanos, que se manifestavam no quotidiano de diferentes formas, convertendo-se, por vezes, em conflitos sangrentos. Tendo como fio condutor a história de um imigrante português, a autora analisa esses conflitos, mostrando que os imigrantes portugueses adoptavam a ideologia do trabalho como estratégia de sobrevivência e acatavam o discurso da irmandade entre brasileiros e portugueses, contrapondo ao antilusitanismo o preconceito racial contra os negros e seus descendentes.

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Daniel Melo
«Beiras e Pátria»: o regionalismo beirão e as suas relações com o Estado e a sociedade civil no século XX

O autor propõe uma reflexão sobre o associativismo regionalista português durante o século XX, focando-se num estudo de caso (a Casa das Beiras de Lisboa), articulando-a com estudos já realizados e com o tema mais amplo do regionalismo. Analisa-se o contexto histórico da sua irrupção e desenvolvimento, o relacionamento institucional com os vários regimes e a restante sociedade civil, o tipo de projectos sócio-culturais propostos. Procura-se iluminar o cruzamento e os modos da disseminação de referências político-ideológicas e sócio-culturais e, deste modo, contribuir para dilucidar o processo de promoção duma identidade cultural plural por uma parte da sociedade civil, incidindo sobretudo num período histórico de política oficial fortemente adversa como foi a do Estado Novo.

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