Ler História 56 / Maio de 2009


Dossier: Emigração e Imigração

Emigração

Miriam Halpern Pereira
Emigração portuguesa para o Brasil e geo-estratégia do desenvolvimento euro-americano

José Carlos Marques
«E continuam a partir»: as migrações portuguesas contemporâneas

Victor Pereira
Ineficiência, fragilização e duplicidade. O velho Estado Novo perante a emigração para França (1960-1968)

Cláudia Castelo
Migração ultramarina: contradições e constrangimentos

Marcelo Borges
Padrões de migração transatlântica e escolhas de destino no Sul de Portugal

Bela Feldman-Bianco
«A Taste of Portugal»: transmigração, políticas culturais e a mercantilização da «saudade» em tempos neoliberais

Imigração

Maria Ioannis Baganha, José Carlos Marques e Pedro Góis
Imigração portuguesa de 1975 até aos nossos dias

Fernando Luís Machado
Quarenta anos de imigração africana: um balanço

Igor J. de Renó Machado
Imigração brasileira na virada do século XX: processos de exotização no Porto

Maria Manuela Mendes
Imigrantes russos e ucranianos na AML: um breve «retrato social»

Donald Warrin
Imigrantes portugueses na Califórnia. Um projecto de história oral

CRÍTICAS E DEBATES

Colecção «Reis de Portugal» em Debate

Resumos

Ler História 56 / Maio de 2009

Miriam Halpern Pereira
Emigração Portuguesa para o Brasil e Geo-estratégia do Desenvolvimento Euro-Americano

Múltiplas abordagens regionais e locais contribuíram nestes últimos anos para a análise mais rigorosa de várias facetas da emigração, esclarecendo vertentes fundamentais, imperceptíveis nas fontes de âmbito nacional. Contudo, outra dimensão tem sido com frequência esquecida: os movimentos migratórios inserem-se um processo global, cujas interacções estão longe de estar suficientemente estudadas. Neste texto, esse contexto de globalização das correntes migratórias e a sua inserção na geoestratégia do desenvolvimento inter-continental é analisado, sendo três as principais questões enunciadas: a razão da cronologia da emigração em direcção às Américas, a composição europeia dominante e as redes de emigração.

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José Carlos Marques
E Continuam a Partir: As Migrações Portuguesas Contemporâneas

O presente artigo procura analisar os fluxos emigratórios que se desenvolveram após o anunciado ‘fim da emigração portuguesa’. Será argumentado que apesar de um discurso político e de uma prática de investigação que, por diferentes motivos, tendem a menorizar a saída de nacionais, ela continua a ser uma opção importante para um número significativo de portugueses que olham para a emigração como uma opção importante e atractiva para ultrapassar os constrangimentos que enfrentam no mercado de trabalho nacional. No prosseguimento deste objectivo central, a emigração portuguesa para a Suíça – um dos principais fluxos emigratórios que se desenvolveu, sobretudo, a partir de meados dos anos 80 – será utilizada para ilustrar o continuar dos fluxos de emigração portuguesa.

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Victor Pereira
Ineficiência, Fragilização e Duplicidade. Modos de Governar no velho Estado Novo

Entre 1960 e 1968, o governo português lidou com a modernização, o crescimento económico e a abertura comercial à Europa de forma ambígua. Estes processos que transformavam profundamente a sociedade nunca foram assumidos politicamente. Esta contradição repercute-se na política de emigração. Apesar da emigração se articular com o processo de modernização, o governo não a liberalizou. Ele não queria descontentar o bloco conservador que se mobilizava contra a emigração. No entanto, os portugueses deixaram o país de forma clandestina. As saídas clandestinas não resultavam de um fracasso do Estado mas foram uma solução usada pelo governo para conciliar o inconciliável.

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Cláudia Castelo
A Migração Ultramarina: Contradições e Constrangimentos

Neste artigo analisa-se a política do Estado português relativa à migração ultramarina para Angola e Moçambique, desde o último quartel do século XIX até às vésperas da descolonização (1974). A evolução daquela política é abordada em articulação com a política de emigração e com a política de colonização. Por fim, apresenta-se o quadro geral daquela corrente migratória e uma breve caracterização demográfica e social dos migrantes metropolitanos que se fixaram naquelas colónias no período pós-II Guerra Mundial. Palavras-chave: Migração ultramarina, Angola, Moçambique

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Marcelo Borges
Padrões de Migração Transatlânticas e escolha de Destinos no Sul de Portugal

O presente artigo combina as perspectivas regional e local para analisar os factores que influenciaram a escolha do destino entre os migrantes transatlânticos originários do Algarve, no sul de Portugal. Nos finais do século XIX e início do século XX, a maioria dos migrantes algarvios ia para a Argentina. Contudo, um exame mais atento das variações intra-regionais revela um padrão mais complexo. O artigo faz uma comparação entre os fluxos migratórios para a Argentina, o Brasil e os Estados Unidos. O caso algarvio mostra que a escolha do destino pelos migrantes era influenciada por uma conjugação de factores micro e macro, incluindo as características sociodemográficas, a origem local, as redes sociais e profissionais, os mercados de trabalho e as políticas de migração. A conjugação destes factores produziu fluxos diferenciados de migração transatlântica.

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Bela Feldman-Bianco
“A Taste of Portugal”: Transmigração, políticas culturais e a mercantilização da “saudade” em tempos neoliberais

Nesse ensaio, procuro discernir as mudanças de localização dos portugueses como grupo étnico e a mercantilização da saudade enquanto “Um sabor de Portugal” em New Bedford, MA - cidade conhecida como a capital dos portugueses na América. Essa análise leva em conta a reestruturação do capitalismo global, o declínio da economia local, a retração da transmigração portuguesa e as atuais políticas neoliberais. Com esse objetivo, examino as relações entre a reestruturação da economia global e as mobilizações transnacionais desses imigrantes, dedicando atenção aos impactos da remodelação do Estado pós-colonial português e de suas práticas transnacionais na costa sul de Massachusets.

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M. Ioannis Baganha
Imigrantes em Portugal: uma síntese histórica

O texto descreve a evolução da imigração em Portugal, desde do processo de descolonização aos nossos dias. Para efeitos analíticos este período foi dividido em três sub-períodos. Os movimentos migratórios do primeiro período são atribuídos ao processo de descolonização e à subsequente necessidade de clarificação de pertença nacional; o segundo à nossa entrada para a CEE, que motivou a atribuição a Portugal de avultados fundos estruturais de coesão e abriu a nossa economia ao exterior; o terceiro é atribuído à favorável conjuntura económica que o país viveu e ao modelo de desenvolvimento adoptado. A cada um destes períodos correspondem populações imigrantes com origens nacionais e perfis demográficos e socioculturais diferentes.

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Fernando Luís Machado
Quarenta anos de imigração africana: um balanço

Depois de uma caracterização da imigração africana em termos de volume, evolução e fases, analisam-se as dinâmicas sociodemográficas, socioprofissionais, socioculturais e identitárias associadas ao processo de sedentarização dos imigrantes africanos. Numa perspectiva sociológica e recorrendo a dados empíricos de várias fontes, dá-se atenção a aspectos como a formação de uma terceira geração, o envelhecimento, a emigração para outros países europeus, a mobilidade social, os casamentos mistos, a socialização linguística e a aquisição de nacionalidade portuguesa.

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Igor José de Renó Machado
Imigração brasileira na virada do século XX: processos de exotização no Porto, Portugal.

Este artigo pretende descrever os processos identitários produzidos por imigrantes brasileiros na cidade do Porto ao final do século XX, inserindo-os num quadro de análise que leva em conta a inserção desses imigrantes na sociedade portuguesa mediada pela produção de imagens sobre os brasileiros e pela delimitação de determinados espaços de trabalho. O trabalho se baseia nas experiências de pesquisa etnográfica ocorridas em 1998 e 2000.

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Maria Manuela Mendes
Imigrantes russos e ucranianos na AML: “retratos sociais”

Tendo por base um estudo aprofundado de carácter qualitativo, apresenta-se aqui um breve retrato dos imigrantes russos e ucranianos entrevistados e residentes na Área Metropolitana de Lisboa (2003-2005), atendendo às características sociais básicas do indivíduo, da sua família actual e, também, da sua família de origem. Interessa ainda dar a conhecer as trajectórias profissionais e residenciais dos indivíduos, bem como as mudanças mais determinantes na composição do grupo familiar na sociedade de acolhimento. São também evidenciadas algumas referências ao passado, designadamente os antecedentes à partida do país de origem, com destaque para a situação pessoal, familiar, profissional e escolar dos entrevistados, assim como as motivações pessoais e familiares subjacentes ao projecto migratório. De realçar que há clivagens entre estes imigrantes; não só entre ambos os grupos, mas também e de forma mais saliente intra-ucranianos, o que se relaciona, quer com a história política e militar da sua região de origem, quer com factores de ordem geográfica, religiosa, linguística, étnica e política.

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