Ler História 58 / Maio de 2010

Lançamento no próximo dia 22 de junho, pelas 18.30 horas, na Livraria Buchholz, Rua Duque de Palmela nº4, Lisboa.


Dossier: Goa: 1510-2010

Ângela Barreto Xavier
Apresentação

Jason Keith Fernandes
«Invoking the Ghost of Mexia: State and Community in Post-colonial Goa»

Filipa Vicente
Orientalismos Periféricos? O historiador goês José Gerson da Cunha (Bombaim,1878)

Paulo Varela Gomes
«As igrejas dos católicos de Goa»

Cristiana Bastos
Hospitais e sociedade colonial. Esplendor, ruína, memória a mudança em Goa.

Pamila Gupta
«Discourses of Incorruptibility: of  blood, smell and skin in Portuguese India»

Nandini Chaturvedula
«Preserving Purity: Cultural Exchange and Contamination in the Late Seventeenth Century»

Portugal e Catalunha na Guerra Peninsular

Fernando Dores Costa
«A invasão de Masséna em 1810 e as linhas de Torres Vedras: uma paradoxal confluência de objectivos?»

Antonio Moliner Prada
«Las fiestas en la ciudad de Barcelona durante la ocupación napoleónica»

Estudos

Miguel Metelo de Seixas
«As insígnias municipais e os primeiros armoriais portugueses: razões de uma ausência»

Cláudia dos Santos e Márcia Motta
«Um retrato do Império. Abolição e propriedade na trajectória de Henrique Beuarepaire Rohan»

Críticas e Debates

Fernando Ampudia de Haro
Uma aproximação ao revisionismo em Espanha: o «Fenómeno Pío Moa»

Recensões

Actualidade Científica

Resumos

Ler História 58 / Maio de 2010

Invocando o Espírito de Mexia: Estado e Comunidade em Goa pós-colonial

Jason Keith Fernandes
Afonso Mexia foi uma das figuras fundadoras do Estado da Índia. Este artigo usa uma referência contemporânea de Mexia, pela Associação dos componentes das comunidades, para desenhar as ligações entre o presente e o passado colonial e pós-colonial, mostrando como a ordem jurídica e social das respectivas eras se tocam entre si. Ao fazê-lo, o artigo contempla as várias contestações no seio das comunidades, e entre a comunidade e o Estado, e como a cidadania se pretende (re)definida no antigo território Português de Goa.

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Orientalismos periféricos? O historiador goês José Gerson da Cunha (Bombaim, 1878)

Filipa Lowndes Vicente
Partindo de um texto escrito em 1878 sobre o orientalismo português na Índia dos séculos XVI e XVII e do seu autor, José Gerson da Cunha, este artigo questiona conceitos de centro e periferia, cosmopolitismo, ou marginalidade nas suas relações com os lugares de produção e os agentes de conhecimento. Ao confrontar as referências historiográficas e reflexividade da abordagem de Gerson da Cunha, com as características nacionalistas de um texto sobre o mesmo tema do erudito português Sousa Viterbo, procura-se ver como é que os lugares influenciaram a perspectiva histórica e determinaram o lugar ocupado por Gerson da Cunha nos cânones historiográficos instituídos posteriormente.

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As igrejas dos católicos de Goa

Paulo Varela Gomes
Os católicos de Goa e de outros antigos territórios portugueses na Índia criaram igrejas e casas que são únicas na história mundial da arquitectura. Estes edifícios apareceram em Goa e são conhecidos talvez desde meados do século XX como arquitectura indo-portuguesa.A originalidade desta arquitectura tem sido atribuída ao resultado de uma síntese entre a arquitectura e a arte portuguesas e a influência indiana. O presente artigo olha para o problema de outra maneira, examinando a conjuntura cultural em que surgiram as igrejas de Goa do século XVII e sugere a hipótese de que estas igrejas são a mais importante manifestação do aparecimento de uma cultura própria dos católicos de Goa.

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Hospitais e sociedade colonial. Esplendor, ruína, memória e mudança em Goa.:

Cristiana Bastos
O artigo analisa algumas das instituições de saúde e assistência em Goa para discutir as dinâmicas de poder na sociedade colonial. Se inicialmente o sumptuoso Hospital Real surge como um operador de segregação, logo se transforma numa arena de jogos de poder envolvendo grupos locais, ordens religiosas e hierarquias do estado. Em inícios do século XIX o hospital militar é referido nas fontes oficiais como um lugar de caos e de autogoverno, mas também pode ser visto como um espaço de influência de grupos locais nas instituições médicas, o que, segundo a autora, ajudará a criar uma Escola Médica quando hospital e capital se transferem para Pangim/Nova Goa.

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Discursos de incorruptibilidade: De sangue, cheiro e pele na Índia Portuguesa

Pamila Gupta
Em 1553, o corpo do missionário jesuíta Francisco Xavier foi declarado miraculosamente preservado e enviado para Goa. Como surgiu e se manteve ao longo do tempo a idéia da sua incorruptibilidade material no Estado da Índia? Este estudo analisa uma série de exames médicos realizados para sancionar as aparições públicas deste santo ou Exposições como os funcionários coloniais lhes chamavam. O discurso destes relatórios de autópsia encontra-se entre a hagiografia católica e a medicina ocidental, tornando-os interessantes para a compreensão da mudança anatómica das relações entre a igreja e o estado na Índia portuguesa.

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Preservar a pureza: o intercâmbio cultural e a contaminação na Índia Portuguesa do final do século XVII

Nandini Chaturvedula
Este artigo analisa várias medidas tomadas para regular o casamento hindu e bailadeiras, no sentido de controlar o intercâmbio cultural entre católicos e não-cristãos, no final do século XVII na India Portuguesa. Apesar de tais regulamentos, os católicos continuaram a interagir com os hindus, a trocar e inevitavelmente a adoptar novas práticas. Como demonstra o estudo, tal ocorreu no caso das celebrações do baptismo que assimilou alguns elementos Hindus. De facto, as políticas relacionadas com este intercâmbio foram altamente inconsistente, em parte devido à frágil posição colonial dos portugueses na Índia neste período.

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A invasão de Masséna em 1810 e as linhas de Torres Vedras: uma paradoxal confluência de objectivos?

Fernando Dores Costa
O artigo retoma a análise da campanha de 1810-1811 em Portugal, considertando como explicação uma confluência paradoxal de objectivos dos antagonistas. O exército dirigido por Masséna invadiu Portugal seguindo instruções que contrariavam as características do combate napoleónico, cercando praças e progredindo lentamente. Wellington surpreendeu os franceses com as linhas de Torres Vedras, sistema de fortificações de campanha, cuja primeira motivação era a protecção da retirada das tropas britânicas. A táctica adoptada por Wellington, condicionada pelas ordens do governo de Londres, passou pela destruição dos recursos que poderiam sustentar os franceses, levando a um conflito aberto com alguns dos governadores do reino.

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As festas na cidade de Barcelona durante a ocupação napoleónica

Antonio Moliner Prada
O artigo argumenta que houve uma continuidade nas festas celebradas na cidade de Barcelona, sob a ocupaçâo napoleónica de 1808.1814, mantendo estas o significado que tinham no Antigo Regime. A nova festa que introduzia o 15 de Agosto em homenagem ao Imperador, São Napoleâo, teve fraco acolhimento entre os cidadâos, não se conseguindo impor face à festa tradicional da Virgen de Agosto, realizada nesse mesmo dia.

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As insígnias municipais e os primeiros armoriais portugueses: razões de uma ausência

Miguel Metelo de Seixas
O presente artigo traça uma visão panorâmica da origem e características dos primeiros armoriais portugueses, quer documentais quer monumentais, existentes entre os séculos XIV e XVI. Verificando a ausência da heráldica municipal, e atendendo ao teor e às circunstâncias de produção de tais obras, procura-se explicar as causas sociais e políticas de tal exclusão. Por fim, analisa-se o aparecimento das armas municipais no armorial compilado em meados do século XVI por Brás Pereira Brandão, que estabelece um determinado modelo de apresentação e de reflexão sobre a temática das insígnias autárquicas.

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Um retrato do império. Abolição e propriedade na trajectória de Henrique Beuarepaire Rohan

Cláudia dos Santos e Márcia Motta
O artigo refere os vínculos entre o Conselheiro de Estado Henrique de Beaurepaire-Rohan e o projeto de democracia rural elaborado nos círculos abolicionistas do Rio de Janeiro, sobretudo a partir de 1883. Enquanto membro da elite tradicional do Império e devido ao sucesso de sua trajetória, Henrique de Beaurepaire-Rohan ajuda a legitimar os argumentos elaborados por certos abolicionistas que associam a abolição da escravidão à reforma do sistema fundiário. Embora o congresso brasileiro não tenha aprovado o projecto de reforma agrária proposto por esses setores, as alianças entre os clubes abolicionistas radicais e membros da elite política do Império permitiram a ampla discussão desses projectos.

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Uma aproximação ao revisionismo em Espanha: o «Fenómeno Pío Moa»

Fernando Ampudia de Haro
O artigo realiza uma aproximação ao fenómeno social do revisionismo historiográfico em Espanha relativo à Guerra Civil e à ditadura franquista. Como fenómeno social, trata-se de uma tendência que excede o próprio âmbito académico, envolvendo diferentes meios de comunicação e editoriais, núcleos de pensamento e figuras políticas. Para além da veracidade ou da falsidade das teses revisionistas, é aqui tratado como um fenómeno social ligado a transformações socio-políticas operadas em Espanha, desde a chegada ao poder do Partido Popular de José María Aznar (1996) até à vitória do Partido Socialista (PSOE) em 2004.

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