Ler História 59 / Dezembro de 2010

Lançamento no próximo dia 31 de Março de 2011, pelas 17:30 horas, no Palácio Valadares, Largo do Carmo, Lisboa
Apresentação de Sérgio Campos de Matos (FL – UL), Maria João Vaz (Ler História) e Frédéric Vidal (Ler História).


Repúblicas: culturas e práticas

Maria João Vaz e Frédéric Vidal
Apresentação

Modelos Nacionais

Florencia Peyrou e Manuel Perez Ledesma
O sonho da República na Espanha do século XIX (1840-1868)

Maurizio Ridolfi
«Viva a República Portuguesa!» Modelos de governo e circulação das ideias republicanas na Itália pré-fascista»

Américo Freire
Liderança e localismo na I República brasileira

Hamit Bozarslan
A república kemalista na Turquia, 1923-1938

 

Culturas e formas de politização

Irene Vaquinhas
Perigos da leitura no feminino. Dos livros proibidos aos aconselhados (séculos XIX e XX)

Daniel Alves
Entre o balcão e a política: os lojistas de Lisboa e o republicanismo (1870-1910)

David Luna de Carvalho
Acções colectivas de repertório tradicional na I República

Annarita Gori
Festa da Pátria: Nuno Álvares Pereira, herói e santo

Valentine Zuber
Laicidade republicana em França: paradoxos de um processo histórico de laicização (séculos XVIII-XXI)

Programas e acções

Joaquim Pintassilgo
O projecto educativo do republicanismo. O caso português numa perspectiva comparada

Maria da Conceição Neto
A República no seu estado colonial: combater a escravatura, estabelecer o «indigenato»

João Freire
A Marinha e a República

Maria da Conceição Tiago
Bairros Sociais da I República: projectos e realizações

Documentos em Estudo

Recensões

 

Resumos

Ler História 59 / Dezembro de 2010

O sonho da República na Espanha do século XIX (1840-1868)

Florencia Peyrou e Manuel Pérez Ledesma
Os primeiros grupos republicanos surgiram em Espanha em 1840. Tiveram um apoio popular crescente e um peso considerável na dinâmica histórica deste período que culminou com a Revolução de 1868. Pese embora o êxito destes grupos na difusão de atitudes, valores e práticas democráticas, não conseguiram implantar a República em Espanha. Este artigo pretende descrever a génese, evolução e os discursos dos sectores republicanos espanhóis das décadas de meados do século XIX e analisar os debates que estabeleceram com outros grupos liberais à volta da república, em especial nas Cortes Constituintes de 1869.

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«Viva a república portuguesa!» Modelos de governo e circulação das ideias republicanas na Itália pré-fascista

Maurizio Ridolfi
Os ecos da revolução portuguesa de Outubro de 1910 foram significativos em Itália na imprensa de opinião, em particular em jornais, revistas e grupos políticos do mundo democrático-republicano. Neste artigo, a abordagem comparada entre Portugal e Itália desenvolve-se à volta da «sorte» diferente da alternativa democrático-republicana. A perspectiva comparada aponta os factores comuns que produziram a crise dos dois sistemas políticos liberais no período que antecede a I Guerra Mundial. A história comparada de repúblicas e republicanismos, sobre a natureza e a crise dos sistemas políticos liberal-democratas, é alargada ao mundo latino-americano, suspenso entre democratização radical, autoritarismo e ditadura militar.

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Liderança e localismo na I República brasileira

Américo Freire
Por meio de uma abordagem fundada na micro-análise e voltada para o estudo de trajetórias individuais, o texto tem como objetivo problematizar questões relativas ao fenômeno do localismo na I República brasileira (1889-1930).

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A república Kemalista na Turquia, 1923-1938

Hamit Bozarslan
O artigo analisa os debates otomanos sobre a República no século XIX e destaca a falta de fôlego da monarquia entre 1908 e 1922. Analisa igualmente a evolução da república kemalista entre 1923 e 1938. O termo república é tomado aqui como sinónimo de poder kemalista, pois confundem-se ambos, tanto no plano discursivo como na prática. Finalmente, Pondo de lado um longo período de três quartos de século, o artigo aborda a luta entre dois campos, que por conveniência são definidos como «republicano» e «democratas» na Turquia de hoje.

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Perigos da leitura no feminino. Dos livros proibidos aos aconselhados (séculos XIX e XX)

Irene Vaquinhas
A autora percorre a evolução da leitura permitida e aconselhada às mulheres, bem como a leitura proibida, ao longo de parte significativa dos séculos XIX e XX. Salientam-se os dinamismos encontrados bem como as permanências, tanto na Monarquia Constitucional, na I República, como seguidamente no Estado Novo. Independentemente do regime político enquadrante, a autora constata a permanente condenação dos romances sentimentais, registando-se, contudo, no plano dos princípios e das práticas de actuação, um dinamismo e diferenças significativas.

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Entre a loja e a política: os pequenos comerciantes de Lisboa e o republicanismo (1890-1910)

Daniel Alves
O autor analisa o papel dos lojistas de Lisboa na conjuntura política e social do período final da Monarquia, um grupo social onde os republicanos tinham garantida uma boa representação. Desenvolvendo a questão da ligação entre o pequeno comércio e o republicanismo, procede a uma análise detalhada ao discurso político e social dos lojistas de Lisboa, dos seus interesses de classe, participação eleitoral e relação com os políticos na fase final da Monarquia. Tratou-se de um caminho para a República que se começou a moldar no início da década de 1890, ficando definido na primeira década do século XX.

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O significado das acções colectivas de repertório tradicional na I República

David Luna de Carvalho
O autor aborda as resistências populares à laicização do Estado e da vida pública no Continente, Açores e Madeira entre 1910 e 1917. Define a existência de cinco tipos de acções colectivas de repertório tradicional quanto à sua motivação: acções no âmbito político-religioso, médico-sanitário; educativo e escolar; político e militar e, finalmente, económico-social. As motivações para as acções colectivas sem pretexto político-religioso contaram na sua grande maioria com motivações dessa natureza. Mesmo no caso das acções colectivas com pretextos económico-sociais- existem indícios fortes de que estes se cruzaram com motivações de natureza político-religiosa.

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Festa da Pátria: Nuno Álvares Pereira, herói e santo

AnnaRita Gori
A autora aborda o mito complexo surgido à volta de Nuno Álvares Pereira, que toma saliência após a I Guerra Mundial, a santificação de Joana d’Arc e o receio de jacobinismo causado pela I República em Portugal. Esta personagem foi entendida simultaneamente como um patriota e um santo, uma duplicidade causou acordo, discórdia e alteração nas políticas desenvolvidas em relação à comemoração desta personagem. Álvares Pereira surge como uma personagem mitificada que representa os ideais de patriotismo, messianismo e misticismo, em nome do qual se institui um feriado cívico que apresentou igualmente modificações ao longo da sua existência.

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A laicidade republicana em França ou os paradoxos de um processo histórico de laicização (séculos XVIII-XXI)

Valentine Zuber
A laicidade francesa é o resultado de um processo histórico que a torna uma das formas possíveis de secularização nas sociedades modernas. Com o aumento da pluralização das crenças e da relatividade dos valores no contexto mais amplo da globalização contemporânea, o secularismo francês encontra novos desafios nos seus territórios tradicionais de acção: a escola e o espaço público. Este artigo começa por apresentar a história particular desse processo de secularização na França desde a Revolução Francesa até ao presente, concluindo com uma análise temática dos novos desafios do secularismo francês e dos debates que gera na sociedade actual.

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O projecto educativo do republicanismo: o caso português numa perspectiva comparada

Joaquim Pintassilgo
A educação era entendida pelo republicanismo, à semelhança do que acontecia na III República francesa, como um elemento central do projecto de regeneração da sociedade portuguesa. Após a revolução política, tornava-se necessária a concretização de uma verdadeira revolução cultural. À escola, em particular a escola primária, era atribuída a finalidade de formar os cidadãos necessários à preservação da jovem República. Assim se compreende a importância nela assumida tanto pelo laicismo como pelo patriotismo que se pretendiam geradores de um novo consenso. Entre as estratégias usadas pelo republicanismo merecem destaque a educação moral e cívica escolar, as festas cívicas ou a educação militar.

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A escravatura no seu estado colonial: combater a escravatura, estabelecer o «indigenato»

Maria da Conceição Neto
Em Angola, a República herdou e desenvolveu os projectos coloniais da fase final da Monarquia. Paiva Couceiro e Norton de Matos, tão distantes na política portuguesa, estavam próximos na visão e governação coloniais. A República completou a conquista militar e transformou a maioria da população da colónia em «indígenas», sob um estatuto legal discriminatório. Mas o novo regime abalou a sociedade colonial, do topo à base, ao combater práticas esclavagistas e certos abusos no recrutamento da mão-de-obra e condições de trabalho. O advento da República criou também, expectativas de progresso social, autonomia política e igualdade racial, que cedo deram lugar à frustração, protesto e repressão.

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A Marinha e a República

João Freire
Com base em investigação de arquivos, de imprensa e bibliográfica, apresenta-se aqui uma síntese da actuação da Marinha de Guerra Portuguesa no período da República parlamentar (1910-26), alargando-se aos últimos anos da monarquia e aos primeiros tempos da ditadura. As revoltas de marinheiros de 1906 e 1936 são os marcos cronológicos extremos desta análise, que toca também na participação dos oficiais da Armada nos órgãos superiores do Estado. lítica.

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Bairros Sociais da I República

Maria Conceição Tiago
O artigo apresenta as primeiras iniciativas do Estado central na área da habitação social. O projecto inicial foi lançado em 1918, sob a tutela do Ministério do Comércio, num momento em que se registava uma enorme carência de habitação para as classes mais desfavorecidas com condições de higiene e salubridade. Em 1919, o planeamento de bairros sociais, segundo um modelo mais progressista, deve-se ao Ministério do Trabalho. O Bairro da Ajuda/Boa Hora e o do Arco do Cego, em Lisboa, foram os únicos, de entre os bairros então iniciados, a ser inaugurados oficialmente pelo Estado central, mas já após 1926.

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