Ler História 66 / 2014


Dossier: I Guerra Mundial. Globalização e Guerra Total.

Maria Fernanda Rollo, Ana Paula Pires
Apresentação

Ana Paula Pires e Richard S. Fogarty
África e a Primeira Guerra Mundial

David Welch
O último lançar dos dados. General Ludendorff: moral, «instrução patriótica» e propaganda imperial alemã 1917-18

Fernanda Rollo
Soldado de África! Quantas medalhas te puseram no peito? Portugal e África numa Guerra Global

François Cochet
No caminho da guerra total na frente oeste: o armamento e as suas utilizações entre 1914 e 1918

Jean-Claude Farcy
Direito e justiça durante a Primeira Guerra Mundial. O exemplo da França

Joana Dias Pereira
O ciclo de agitação social global de 1917-1920

Michael Neiberg
A crise de 1914 e o caminho para a Guerra

Pierre Purseigle
arte liberal da Guerra: a Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial

 

Resumos

Ler História 66 / 2014

África e a Primeira Guerra Mundial

Ana Paula Pires e Richard S. Fogarty
Em 1914, ano da eclosão da Grande Guerra, com excepção da Etiópia, da Libéria e da União Sul Africana, que eram independentes, da Líbia e de Marrocos que não tinham sido ainda «formalmente conquistados », o resto do continente africano encontrava-se já ocupado e dividido entre o Reino Unido, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália e Bélgica. Este artigo procura fazer uma síntese da importância de África no contexto da Grande Guerra, analisando o respectivo contributo humano e material para o conjunto da beligerância europeia. O texto focará ainda algumas das razões por trás da entrada do continente africano na I Guerra Mundial, e conclui com uma síntese em torno das repercussões sociais, políticas e económicas trazidas pelo conflito às relações Europa- -África, e que, em suma, servem para compreender o modo como o continente se foi «moldando» por forma a conseguir satisfazer os interesses das potências colonizadoras, durante a guerra.
Palavras-chave: África; Guerra; Globalização; Mobilização.

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O último lançar dos dados. General Ludendorff: moral, «instrução patriótica » e propaganda imperial alemã 1917-18

David Welch
Para contrapor aos relatos de um abismo cada vez maior entre a autoridade do Estado e o sentimento popular sobre a guerra, o general Ludendorff lançou uma grande campanha de propaganda em Julho de 1917 denominada Vaterländische Unterricht (instruções patrióticas). Foram identificados quatro grandes temas: 1]As causas da Guerra. 2] Confiança na vitória final. 3] A necessidade e a importância da liderança e 4] o inimigo. Foi a última vez que Ludendorff lançou os «dados da propaganda» e assumiu a responsabilidade total tanto pela sua concepção como pela sua implementação. Contudo em Setembro de 1917, os relatórios que chegaram à OHL deixavam perceber que o programa de «instrução patriótica » não tinha conseguido combater as percepções negativas da Guerra uma vez que o publico a via cada vez mais como «propaganda barata».
Palavras-chave: Ludendorff; propaganda; «instrução patriótica»; Kaiser.

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Soldado de África! Quantas medalhas te puseram no peito? Portugal e África numa Guerra Global

Fernanda Rollo
Porque razão, estando o império africano tão incorporado no imaginário português, a frente africana de guerra, onde Portugal esteve presente entre 1914 e 1918 e para onde mobilizou cerca de 50 000 homens acabou por ficar ofuscada pela pouco consensual intervenção do exército português na Flandres? Com este artigo pretende-se contribuir para o aprofundamento do estudo dos motivos que estimularam a intervenção portuguesa em África, concorrendo para a apreciação da importância e do impacto que essa presença deteve não só no contexto nacional, para lá do debate histórico e historiográfico em torno do intervencionismo-não intervencionismo, mas ainda da percepção do papel de Portugal e das colónias portuguesas no estudo geral da I Guerra Mundial.
Palavras-chave: Portugal; I Guerra Mundial; África.

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No caminho da guerra total na frente oeste: o armamento e as suas utilizações entre 1914 e 1918

François Cochet
A Grande Guerra inova na produção em massa de instrumentos de guerra, nunca igualado até então. O bloqueio tático da frente ocidental influenciou muito. As trincheiras, constituindo um sistema totalmente fechado, só podem ser vencidas pela surpresa (gás, tanques) ou pela desarticulação (artilharia cada vez mais potente). Todos estes instrumentos obrigam à mobilização industrial das frentes internas e a produções racionalizadas e administradas, conduzindo à crescente totalização da Grande Guerra. Os efeitos sobre os combatentes são impressionantes, nomeadamente pela amplitude das destruições que estes meios tornaram possíveis. Porém, se a ideia da totalização, embora variando na sua cronologia, pode ser admitida como tal para a Grande Guerra, é necessário evitar qualquer esquema teleológico. Além disso, convém distinguir cuidadosamente os debates sobre a totalização da guerra, dos da «brutalização» das sociedades durante e depois da Grande Guerra.
Palavras-Chave: totalização; armas; produção; artilharia; tanques; gás; 183 aviação; experiência de combate.

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Direito e justiça durante a Primeira Guerra Mundial. O exemplo da França

Jean-Claude Farcy
Durante a Primeira Guerra Mundial, em França, como noutros países em guerra, o direito recuou em favor de procedimentos de excepção, chegando a dispensar a justiça no internamento de civis de nacionalidade inimiga e outros indesejáveis. A justiça militar estendeu a sua influência e exerceu, particularmente em caso de perigo grave, uma repressão brutal e arbitrária com um objectivo sobretudo disciplinar. Até a justiça civil foi mobilizada ao serviço da defesa nacional.
Palavras-chaves: Direito; Justiça militar; Campo de concentração; Primeira Guerra Mundial.

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O ciclo de agitação social global de 1917-1920

Joana Dias Pereira
Este artigo foca o ciclo de agitação social de 1917-1920 e seu papel crucial na ampliação e politização do movimento operário. Com base em evidências empíricas sobre o caso português e na literatura internacional recente, será argumentado que novos e mais amplos laços foram forjados entre o operariado europeu durante este episódio de conflitualidade. Reconhecendo a centralidade dos processos de transformação social no longo termo, os factores e mecanismos conjunturais serão destacados. Examinar-se-á a percepção colectiva de uma oportunidade para melhorar as condições de vida e trabalho na crescente intervenção estatal nas esferas económica e social, a apropriação social de recursos organizacionais, como as associações locais e as redes informais familiares e comunitárias na mobilização dos trabalhadores e das populações, e, finalmente, a mediação entre diferentes repertórios de acção colectiva, ou seja, as lutas em torno da produção e do consumo. Este processo permitiu superar parcialmente antigas barreiras entre ofícios e comunidades, tendo em conta que as reclamações dirigidas ao Estado exigiam a regulamentação quer das relações laborais quer dos abastecimentos. A eleição da estratégia estatista potenciou ainda a articulação translocal do movimento.
Palavras-chave: guerra; carestia de vida; revoltas da fome; greves.

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A crise de 1914 e o caminho para a Guerra

Michael Neiberg
A estrada que transformou um assassínio nos Balcãs numa guerra mundial é confusa e difícil de perceber. Se quisermos compreender esta catástrofe seminal do século XX não são suficientes explicações simples. Este artigo utiliza investigação recente para apresentar uma compreensão mais complexa e matizada das intricadas séries de acontecimentos que levaram à guerra em 1914.
Palavras chave: 1914; I Guerra Mundial; Origens da Guerra; Sarajevo; Ultimato.

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A arte liberal da Guerra: a Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial

Pierre Purseigle
A Primeira Guerra Mundial forçou a Grã-Bretanha a adaptar as suas estruturas militares, económicas e políticas em função dos desafios da guerra industrializada. A transformação do seu exército – uma pequena força convencionalmente encarregada do policiamento do Império – teve um impacto considerável na cultura política liberal dominante. A guerra desafiou concepções de cidadania estabelecida e redefiniu a relação entre o Estado e a sociedade civil. Este artigo assenta numa abordagem comparativa e transnacional e procura demonstrar que, apesar do indiscutível crescimento do aparelho de Estado, a guerra não foi um jogo de vencedores e vencidos para a sociedade civil britânica. Este artigo procura neste sentido reavaliar a importância crítica do pluralismo liberal que caracterizou o sistema político britânico em tempo de guerra.
Palavras chave: Grã-Bretanha; liberalismo; Primeira Guerra Mundial; pluralismo; Estado.

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